segunda-feira, 28 de novembro de 2005

CRÍTICA: DOIS FILHOS DE FRANCISCO / Encarei. E você, vai encarar?

Fiquei sabendo que tavam me criticando por eu ver qualquer porcaria e me negar a encarar “Dois Filhos de Francisco”. Ué, então é auto-crítica, porque fui eu que falei isso primeiro. Claro que tenho preconceito explícito. Não contra o cinema nacional, muito pelo contrário, mas por esse tipo de música. Realmente detesto o estilo country. Aliás, não só a música, mas tudo que ele representa: os rodeios, as botas, o machismo, a vontade de ser americano... Sem falar que, na minha memória, as duplas neo-sertanejas estouraram no final da década de 80 – parece trilha sonora do Collor. Ou seja, country só me traz más lembranças. Agora, o meu preconceito não tem a ver com elitismo, ao menos espero que não (inclusive, a melhor definição que ouvi do estilo sertanejo veio de um pobre açougueiro: “música de corno”). É que meus ouvidos estão acostumados com as letras do Chico, a voz do Milton. É difícil eu gostar desse pessoal gritando suas melodias que rimam com “ão”. Se fizessem um filme sobre a origem do Sepultura, eu também iria lutar com todas as minhas forças pra não assistir.

Mas, enfim, “Dois Filhos” tá fazendo o maior sucesso, e eu quero que faça mais ainda, e pros fãs de Zezé di Camargo e Luciano é um prato cheio, imperdível. Pros detratores, que é o meu caso, o drama é muito bonito até a metade. No fundo, “Dois” é melhor que “Cazuza – O Tempo Não Pára”, e bem melhor que “Ray”, por fugir um pouco do estilo cinebiografia. Ele dedica a metade da fita à infância de Zezé, quero dizer, Mirosmar, e a gente podia fazer um outro filme sobre como botar um nome desses no filho complica as chances de vencer na vida. Francisco, o pai dos cantores (interpretado pelo Beija-Flor Ângelo Antônio, outro preconceito meu), é um homem problemático. O drama não o condena, mas também não o endeusa, e isso é bom. Tem uma cena comovente em que os dois meninos vão cantar na rodoviária pra ganhar uns trocados; e cria-se um clima de “Bye Bye Brazil” (sem a poesia e a crítica social) quando o grande José Dumont entra na jogada. Qualquer filme que mostra uma placa no meio do nada com o nome “La Maison The Food” tá bom pra mim.

Graças a Deus a produção mal menciona rodeios, e não sei como conseguiram filmar uma São Paulo tão limpinha e pouco habitada. E Goiânia é uma bela cidade. Você tá notando que tem muita coisa que eu gostei. Mas quando os meninos deixam de ser meninos e viram homens e cantores profissionais, a minha aversão às músicas veio à tona. Olha, eu acho o Zezé uma gracinha, sempre achei. Mas não acho que ele saiba cantar. “É o Amor” é horrível. E mesmo que não seja, porque tudo depende do gosto, não soa estranho tentar ressuscitar uma canção que serviu de jingle pra comercial de tempero? De qualquer jeito, fico na torcida pra que o filme continue encantando esse público que nunca vai ao cinema e bata recordes. É interessante que haja um produto tão divisor de águas como este, porque a gente sabe que parte da classe média gosta tanto de música sertaneja quanto eu. E como é classe média que geralmente vai ao cinema, a gente pode concluir que as sessões tão cheias de espectadores de primeira viagem. Virgens e verdadeiramente populares.

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